No capítulo anterior, vimos 40 ávidos concorrentes à bolsa de pós-graduação no Japão serem reduzidos a 6. Um dos quais era essa ruiva que vos fala.Eu e os outros do Top-6 tivemos uma reunião instrutiva na Embaixada, preenchemos documentos e, claro, nos conhecemos.
Vendo que os outros vinham das Exatas ou de Letras, e sendo que eu era a única menina e a única da área das Artes, pensei que, na lista de prioridades, eu era uma dos últimos. Todos os outros projetos me pareciam muito mais sérios que o meu, e mais bem fundamentados. Mas desistir não é opção, então me esforcei em tudo o que pude e montei meus planos para ir ao Japão, mesmo que não consiga a bolsa. A maior preocupação era por não termos, ainda, um número definido de vagas. Então a qualquer momento poderíamos ser eliminados, a não ser que tivessem exatamente 6 vagas. E mesmo assim isso não garantiria que todos conseguissem a bolsa, pois todos dependemos da aprovação final advinda do Governo Japonês.
Um dia eu sentei de noite, com o notebook e o telefone, preparei um discurso e lista de vocabulário, entrei em todos os sites das universidades que selecionei e LIGUEI para elas. Liguei. Pro Japão. Pra falar japonês.
As primeiras ligações foram as piores, principalmente por ter sido informada ou que a universidade não servia pro meu projeto, ou que eles não aceitavam bolsistas do Monbusho. Em todas as ligações, eu pedi para falar em inglês:
すみません、英語で話していただけませんか?
Sumimasen, eigo de hanashite itadakemasen ka?
(Desculpe, Poderia me fazer o favor de falar em inglês?)
Algumas pessoas já respondiam em inglês (somente os funcionários das universidades de Tokyo falaram inglês BEM), teve um rapaz que se esforçou bastante e falou com sotaque bem carregado, mas não conseguiu entender o que eu falava. E os outros (a maioria, infelizmente) me responderam que não conseguem falar em inglês. Então, tive que pedir para falar devagar:
問題ありません。では、ゆっくり話してください。
Mondai arimasen. Dewa, yukkuri hanashite kudasai.
(Não tem problema. Então, fale devagar, por favor.)
Embora eu estivesse ligando para vários lugares, o que mais me interessava era Kyoto Seika University, que é realmente pra onde quero ir e onde já tinha feito contatos. Tentei ligar para o telefone do escritório da diretora do mestrado (Jaqueline Berndt), mas ninguém atendia. Consegui até conversar com outra pessoa da secretaria, que me confirmou que está tudo certo para me mandarem a carta, só faltava a aprovação da professora Berndt. Enfim, continuei ligando para os outros lugares, intercalando com ligações para o escritório. Por fim, quando já eram 6 AM e eu já tinha perdido as esperanças de falar com ela, numa última e desanimada tentativa… ela atendeu! Ficou muito impressionada por eu ter ligado, e disse já ter uma orientadora para mim, que é mangaka e procura aplicações práticas para os mangás. Por fim, ela me garantiu a carta de aceitação, que foi prontamente enviada no dia 15 de Julho, e chegou na minha casa em 5 dias.
Aliás, no dia 15 de Julho, estava eu no mercado, fazendo compras com o namorido, quando minha mãe me ligou e, com uma voz fúnebre, anunciou:
Filha… Ligaram da Embaixada do Japão para você. Disseram que já receberam a informação sobre a quantidade de vagas para a bolsa, e que é o dever deles de te informar…
(Nessa hora eu já estava me preparando psicologicamente para aceitar a derrota e fazer outros planos)
… que você foi selecionada! Você vai ser indicada oficialmente pela Embaixada, e agora você já pode ir lá para receber o seu documento que comprova que você passou na seletiva local.
ALELUIA!
Na terça-feira, 19 de Julho, fui lá levar a minha carta de aceitação, e fiquei sabendo pela Marta que eram só 4 vagas! Infelizmente mais dois concorrentes foram eliminados, mas, embora a vaga e a carta de aceitação signifique 80% de certeza de que vou conseguir a bolsa, o resultado não é definitivo.
Desde então tentei, sem muito resultado, contactar as outras universidades que escolhi para obter a carta mesmo que tardiamente. Até hoje não tive respostas, então só me resta torcer para que a uma única carte de aceitação me garanta minha vaga. A prévia do resultado da análise do governo japonês deve sair só em dezembro, e o resultado final, apenas em fevereiro de 2012. Até lá, vou me concentrar muito nos estudos de japonês e artes!
OI, eu também vou tentar o monbusho e gostaria de saber os numeros de telefone das universidades e como devo abordar para pedir uma carta de aceitação.
Oi Thiago!
Os telefones das universidades você vai ter que procurar nos respectivos sites delas. Mas também pode encontrar em sites de bancos de dados de universidades! Dá uma olhada nesses aqui:
Japan Student Services Organization (JASSO)
Japan Study Support
Diretory Database of Research and Development Activities(READ)
Study in Japan – Comprehensive Guide
Quanto a abordagem, é um tópico bem complicado. Você pode tentar enviar um email em inglês, mas pesquise formatos de carta japoneses antes, por exemplo, seja absolutamente educado e humilde, agradeça e se desculpe, fale gentilmente e brevemente sobre o tempo/clima atual na sua região antes de iniciar o assunto do email. São coisas burocráticas mas que ajudam a formar uma boa imagem para os japoneses. Se for mandar o email em japonês, peça para algum professor revisá-lo antes de mandar. Mesmo assim, se algo não estiver de agrado do pessoal que receber o email, eles podem simplesmente ignorá-lo. Eles dificilmente responderão que faltou alguma informação ou te indicarão outra pessoa para contactar, se você errar o destinatário. A não ser que eles estejam bem acostumados a lidar com estrangeiros, ou mesmo tenham estrangeiros na equipe.
Por isso recomendo enviar o email, depois ligar para avisar que ele foi enviado, confirmar o endereço correto para entrar em contato e depois enviar o email de novo. Seja enfático e educado e não desista.
Quanto as conversas por telefone, prepare-se para falar em japonês, para pedir para falarem devagar e em “futsuu nihongo”, japonês comum (quando eles começam a falar japonês formal, é muito fácil se confundir se você não tiver prática com japonês formal). Mesmo que eles consigam falar em inglês com você, fale bem articuladamente e pausadamente. Prepare a explicação de sua situação com antecedência, e prepare-se para as respostas. Tente antecipar o que você pode ouvir, pesquise e estude vocabulário e deixe anotado perto de você quando ligar. Recomendo MUITO que você grave a ligação para poder ouvir de novo, mostrar para algum professor ou tirar dúvidas. Mas o ideal mesmo seria você conseguir ligar usando viva-voz com um falante de língua japonesa do seu lado para te ajudar. Eu queria muito ter feito isso mas não me programei da melhor forma e tive que ligar por conta própria. Quando liguei eu não consegui gravar as ligações e acabei perdendo muitas informações.
Outra coisa. O jeito de falar dos japoneses presume que você os interrompa, tanto para concordar e dar sinais de que está entendendo, quanto para completar o que eles estão falando. Não se preocupe em esperar a pessoa terminar totalmente a frase, se não ela vai continuar falando e falando até você interromper, e se você perder alguma informação ou não entender algo no começo… já era, hehehe.
No mais, tente adiantar o máximo possível esse contato com as universidades. Tenha alguém de confiança lá dentro, tente conseguir um professor orientador antes mesmo de se inscrever. Quanto mais entrosado você estiver com o lugar para o qual quer ir, maiores são suas chances de conseguir a bolsa.
Bom, acho que esses são os concelhos que eu posso te dar, por enquanto. Boa sorte!
Olá!
Agora já estamos em Abril. E então, recebeu a resposta definitiva?
Oi! Acabei de soltar outro post com atualizaçoes! Sim, recebi a bolsa, mas eles deram a resposta no último momento do último momento! Tudo deu certo no fim das contas.